sexta-feira, 22 de julho de 2011

Da morte.

A primeira vez que a morte me avisou de sua existencia foi no inicio da década de 80. Eu era tão pequena que talvez tenha pensado que morrer era uma escolha, assim como viajar. Naquele momento não vi toda a solenidade que a presença dela provoca e talvez isso tenha me deixado na zona do conforto de ignorar que ela de fato existe.

Anos depois o aviso foi contundente. Em 1991 ela deixou bem claro: a morte existe, é triste, e acontece para todos. Nesse ano ela levou minha vó que sempre morou conosco, ajudou na nossa criação, compartilhou toda uma vida até ali.
Naquele ano em vi e vivi as solenidades da morte, o fechar de olhos, a escolha do caixão, as flores, as velas, a madrugada gelada que se atravessa até o momento da despedida do corpo. Lembro do perfume que eu usava, das cores do dia, do café quente servido, do entra e sai das pessoas, do céu, do choro, das palavras do padre. Lembro das cabeças de leão que ornavam o caixão.
Essas lembranças me são muito cruéis, não só porque marcaramo desaparecimento terreno de uma pessoa importante em minha vida, mas sobretudo porque ali me ficou claro que a morte existe.

Depois deste, em outros momentos a morte ficou lembrando-me da sua implacável existencia,e ao levar uma colega de faculdade me deixou claro que seus critérios de escolha não obedeciam idade nem tampouco momento de vida. E menos de 24horas antes ela estava ao meu lado, tirando xerox de uma apostila, na manhã seguinte estava deitada num caixão, flores amarelas e brancas ao redor do corpo, toda uma tristeza suspensa no ar. Crise de asma fatal.
Um pouco antes de vir pra BH estive em outra triste solenidade de despedida do corpo e novamente todos os detalhes me marcaram, novamente ali estavam as flores, as velas, o choro, o cheiro dela no ar, o céu, e olhos cerrados para sempre.

A morte me faz lembrar de toda a transitoriedade da vida, dos pequenos "fins" diários, e, principalmente da contradição vivenciada dia-a-dia, a cada minuto.

Eu não sei para onde vão as pessoas que morrem e, dependendo da religião que você siga, talvez elas estejam todas num "plano superior", no "céu" ou sei lá onde mais...e uma coisa é certa, você nunca sabe qual será seu ultimo momento ao lado dela. Elas partem e os que ficam aqui nesse mundo cada dia mais material, vão vivendo sob o ópio que nos faz esquecer o grande mistério da existencia, o porque de tudo.

Ontem eu recebi a notícia de que uma pessoa muito querida tinha ido para o outro plano, desencarnou, morreu. Era um senhor já mais velho, pai de uma amiga, ambos advogados. Já o conheci doente, as mãos atrofiadas mas um sorriso perfeito, uma alegria no olhar, uma vontade de viver e, principalmente, uma atuação intensa no trabalho.
Sofreu meses até finalmente partir.
Hoje pela manhã tentei fazer como se fosse um dia normal, e lá pelas tantas me arrumei para ir à despedida.
Sai de casa, mas antes que o elevador chegasse ao térreo, eu desisti.
As flores, o cheiro, os olhos cerrados, as vozes em oração, o céu, as velas, todas essas solenidades de morte me fazem mal. Talvez eu seja do tipo de pessoa que não vá a enterros, à velórios e acabou de descobrir que talvez eu seja daquele tipo de pessoa que nem gosta de pronunciar essas palavras.
Mas o fato é que, se pessoalmente eu não estava lá para testemunhar o triste descer do caixão, todo meu sentimento e vibrações pela familia são sinceros e presentes.

A melhor lembrança a guardar não são a do rosto pálido, das mãos cruzadas sobre o peito, a melhor lembrança é a do sorriso vivo, dos olhos brilhando, do aperto de mão caloroso, das brincadeiras, a voz festiva, a presença amiga.

Hoje tô meio diferente, é a morte que veio me lembrar sua existencia novamente e mais uma vez veio tirar do convivio alguem que deixará saudade aos que ficam.

7 comentários:

Lulu on the sky disse...

Ai Carol como te entendo viu. Meu primeiro contato com a morte também foi na década de 80, meus dois avós paternos desencarnaram nessa época. Depois de algum tempo vieram mais.
Sofri muito em 2004 qdo minha avó materna partiu e depois foi meu pai em janeiro de 2005, minha tia paterna em out do mesmo ano, minha outra tia paterna em 2006, minha outra tia paterna em 2007. Ufa.
Foi um choque do meu pai pq tive que correr atrás de tudo, ele partiu daqui de casa, do meu antigo quarto pensa..
Big Beijos

Micha Descontrolada disse...

aff...mto triste isso tdo.
ja´tive mtos contatos com a morte e é mto difícil, mesmo...
sabemos q é algo inevitável, mas nunca estamos preparados para tal.

Um ótimo fim de semana para você!!!

/(,")\\
./_\\. Beijossssssssss
_| |_................

Lu Barreto disse...

Muito triste tudo isso. Já vivi isso e sei o quanto é ruim todo esse ritual. Mas, faz parte da vida, não é mesmo? O pior mesmo é pra quem fica e tem que conviver com a dor.
Beijos.

Mari disse...

É uma situação tão chata né?! sério, não importa se você está se preparando pra isso, vendo que a pessoa está doente e tals, nunca é fácil... Eu tento ver a morte como um recomeço... não sei o que acontece com aqueles que vão, mas do mesmo jeito que vida significa o inicio de um ciclo, também penso na morte como parte desse ciclo, um passo que dará inicio ao novo ciclo e assim por diante... então deveriamos sempre lembrar da pessoa amada pelo que ela tem de melhor e não pelos últimos momentos da vida dela... mas mesmo assim nunca é fácil.

bjss

Bia disse...

Vou comentar três em um!
Eu quero ter um milhão de amigos pra cada um me dar um real, já dizia a comunidade do orkut! ssuhbsuhabsuhba
eu amo meus amigos, aaaaaaaaaamo, um sonho na vida é juntar todos!
De todos que enviei esse foi o único que comprei, usei ele com o marina, tenta depois!
Eu adoro a blant, é facil de passar e dura na unha!
Meus amigos dizem que sempre tenho uma coisa pra falar, mas qndo se trata da morte eu nunca sei o que falar, NUNCA. Então...

P.S: Amei o lay, tira a barra do blogspot!

Duda - @cha_para_dois disse...

Que coisa, nesse momento estava pensando sobre a morte. :(

Fica bem querida....

abraços.

Dry Santos disse...

Bah, guria, tenho esta mesma opinião sobre a morte... Prefiro lembrar da pessoa enquanto viva do que presenciar tudo aquilo. Nunca consegui ir a um enterro ou velório. Nem dos meus avós, que eu tanto amava. É extremamente difícil.
Espero que fiques bem!

beijinhos :*

PS: Logo apareço no blog! Estou aproveitando a vida off line :)